3 de setembro de 2004

Intuição

Às vezes até aos amantes das palavras elas cansam... e pesam, como se cada sílaba carregasse cada um dos 'pecados' do mundo. Estes dias ando assim, talvez por isso esta pausa. Quando isso acontece só a poesia (ou a tentativa do poema) podem aliviar esse peso. Portanto, ainda fresco e sem revisão aí vai «Intuição»:

A luz que me persegue,
de tão leve e intensa,
atordoa-me.

Um dia não poderei mais retê-la...

Por agora
há um halo
(ou uma toca)
onde tudo se confunde no espelho
que reúne todos os mundos,
côncavo e convexo
são então o reflexo
da dimensão material,
o limite do mundo sensível.
Atrás dessa rede as essências vibram!
Quem possui ou dirige os seus sonhos?
Deslizam cores,
todas as cores que não existem,
tonalidades imperceptíveis,
sombras de matizes ausentes...

É então que,
subitamente,
te sonho em mim...
Como chegáste ou porque te recebi
será sempre uma incógnita,
todos os caminhos são sempre uma linha
infinitamente livre,
embora resultem inexoravelmente
de um rumo
há muito traçado.

Vivo-te em mim,
como um laço insondável e eterno
e existir-te é, talvez,
a etapa que permitirá
o início do voo...

Seremos anjos,
um dia,
na intuição lírica
que sobrevem
a todas as dúvidas.

1 comentário:

oasis dossonhos disse...

Salvé Poesia! Gosto deste primeiro poema no blog.É bom saber-te a reagir às emboscadas da sombra com a secreta música de um verso...